É comum ouvir a frase “Adestre o cão que está na sua frente”, mas raramente vemos essa abordagem ser aplicada de forma verdadeiramente sensível e profunda. Dizer algo que soa bom é fácil; o desafio real é colocar isso em prática.
Quando eu, Carlos Carneiro, trabalho com um cão, meu foco é captar todas as informações que ele me oferece. Isso vai muito além de simples observações. É preciso permitir que o animal dentro de você se conecte com o animal que está na sua frente. Porque essa sua essência animal é muito mais sensível e capaz de perceber a vasta gama de sinais — tanto os óbvios quanto os quase imperceptíveis — que o cão emite.
A mente humana, excessivamente intelectual, tende a processar a informação em pequenos pedaços limitados, encaixando-os em “caixas” restritas. Acontece que nossa mente consciente não consegue absorver a quantidade de dados que nossa mente inconsciente, nosso lado animal, é capaz de processar. E, mais importante, ela não consegue fazer isso com a velocidade necessária.
Ignorar essa conexão instintiva pode levar a interações negativas, até mesmo perigosas, e comprometer todo o processo de aprendizado do cão.
É claro que nosso lado humano e intelectual precisa estar presente, mas ele deve assumir uma posição de co-piloto. O ideal é que ambos trabalhem juntos, permitindo que você se apoie em cada um deles conforme a situação exigir.
Embora não possa ensinar você a ativar esse seu lado mais primitivo, posso compartilhar algumas observações que faço e ajusto quando estou totalmente conectado com o cão. O objetivo é que você aplique e avalie esses pontos conscientemente até que se tornem automáticos, manifestando-se de forma inconsciente.
Pontos-chave para uma conexão genuína com seu cão

- Movimento Corporal: Avalie se seus movimentos são fluidos ou angulares demais. Sua velocidade está deixando o cão nervoso ou sobrecarregado? Observe sua postura, a proximidade e a forma como você se aproxima.
- Comunicação Verbal: A forma como você usa o volume, o tom e a velocidade da sua voz ajuda ou atrapalha a concentração e o aprendizado do cão?
- Pressão: As ferramentas estão sendo usadas de forma muito firme ou muito suave? O ambiente (a presença de outros cães, pessoas, ruídos) está gerando estresse e interferindo no aprendizado?
- Motivação: O cão está desmotivado e desinteressado, ou agitado e potencialmente perigoso? Identifique se é necessário aumentar ou diminuir a motivação.
- Curva de Aprendizagem: O ritmo do treinamento está muito rápido ou muito lento? O cão demonstra confusão ou não está priorizando a tarefa? Ele é naturalmente mais ansioso, estressado ou lento?
Todos esses fatores, e muitos outros, influenciam o cão com quem você está trabalhando. O segredo é ser hipersensível à informação que você envia e, ao mesmo tempo, ser hipersensível à informação que ele devolve. Ao aprimorar essa consciência nos dois sentidos, você realmente estará ajudando o cão, e a si mesmo, a alcançar o melhor resultado.

Lembre-se: o intelecto quase sempre tenta dominar o instinto. Vivemos a maior parte do tempo em nossa mente consciente, onde nos sentimos mais confortáveis. Mas, se você permitir que isso aconteça, estará limitando seus resultados — e não apenas com seu cão.
